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sexta-feira, julho 06, 2007

Adaptações

Literatura e cinema, coisas que sempre andam juntas.


Se você considerar que o cinema, antes de tudo, é uma forma de literatura (assim como o teatro, que nasce de um roteiro) basta para que este post perca a sua função.


Porém, quero falar especificamente da adaptação de romances para a telona da 7ª arte. Este é um tema polêmico em rodas filosóficas de mesa de bar, capaz de exaltar o ânimo dos debatedores e trazer a discórdia entre amigos. Com propriedade ou não para expor suas críticas, todos têm pelo menos uma opinião comparativa entre as obras do escritor (a original) e do roteirista/diretor (a adaptação). Defende-se, então, com unhas e dentes, gritos e - não é piada - pontapés o meio que mais se tem afinidade. Entre os fãs da estória contada, geralmente o filme é massacrado.


Aproveito este tema porque as adaptações têm tido nos últimos anos lugar especial entre os blockbusters. O Senhor dos Anéis, Harry Potter, Hannibal, O Perfume, O Código Da Vinci, 300, As Crônicas de Nárnia, Eragon, Homem-Aranha, Hulk, O Demolidor, X-Men, O Quarteto Fantástico - Sim, estou considerando também os quadrinhos.


Parece que a receita é perfeita: um best-seller se torna um blockbuster. E é fácil entender essa relação direta. E é fácil entender também a decepção de muita gente.


Você já viu alguém comparar uma foto e uma pintura?
"- ah, não gosto do traço de
Toulouse-Lautrec, prefiro a técnica de JR Duran." - meio sem sentido, não é?"


Defendo a licença poética do cinema, não acho que uma adaptação deve ser uma cópia de um livro. Gosto das soluções que os roteiristas e, depois, os diretores usam para sintetizar a narração. Gosto de comparar minha visão do clima e ambientação de uma história com o que se vê na tela... e no fim das contas entendo a adaptação como uma nova estória. E é assim que deve ser, eu acho.


É claro que você ver aquele personagem coadjuvante que você tanto gostou (mesmo sendo insignificante para a trama) ser cortado ou condensado com mais dois ou três outros é um pouco chocante, mas só se você estiver esperando mesmo uma projeção do livro palavra a palavra!


E é claro também que as adaptações podem resultar em filmes bons e filmes ruins, não precisa comparar com a obra original. E é isso que eu defendo: a análise sem comparação. Como se pode comparar um livro em que, por exemplo, um autor se deleita durante quatro ou cinco páginas em descrever um cenário com um filme em que é preciso apenas alguns segundos para que a imagem transmita a mesma impressão? Fica claro que são meios com características muito diferentes, com objetivos muito diferentes e que, portanto, têm a capacidade cada um de provocar reações diferentes no leitor (ora, no cinema lemos imagens! Permitam-me esse artifício considerando-o um joguete poético).


O texto escrito se aproveita da imaginação do seu espectador (outra licença, já que o Houaiss define espectador como que ou aquele que observa ou examina algo... então, quando lemos somos voyeurs a observar o desenrolar de cada enredo), provoca sua memória a juntar cacos do mundo que ele viu e das experiências que viveu e transformar esses cacos numa nova realidade fantástica... a impressão do leitor vai moldando sua percepção da narrativa.


O cinema nos envolve em som e imagem. Nos entrega tudo pronto, mas é capaz nos prender pelo nosso fascínio de ver e sentir coisas novas, visões de outras pessoas, para transformá-las em caquinhos do mundo que vamos usar mais tarde.


Analisando dessa forma, vemos que as duas artes alimentam uma à outra e nos prendem por motivos diferentes, cada qual com o seu mérito. Incomparáveis, assim, mas criticáveis dentro dos seus meios.
Bom, geralmente minha opinião é essa, mas como não sou lá muito estável nas minhas opiniões devo fazer outro post sobre adaptações falando especificamente do gêneros terror. Alguns aspectos dessas adaptações me fazem ter vontade de comparar o cinema e a literatura. Enfim, será que escorrego na minha própria crítica. Em breve veremos.


Ah, antes de ir, que tal deixar um jogo? Aguardo comentários, mas entre esses comentários que tal vocês dizerem que livro gostariam de ver adaptado ao cinema?

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